João Pessoa - PB, sábado, 11 de setembro de 2004

Boa-nova

Canhoto da Paraíba ganhará pensão vitalícia do Governo da Paraíba.

O jornalista Sebastião Lucena aproveitou a boa-nova para escrever uma carta de agradecimento à apresentadora da rede Globo. Ele a publicou em sua coluna do dia 9 de setembro de 2004 (segue abaixo).

(Mardson Medeiros)

Ave Ana Maria Braga

Tião Lucena
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Querida Ana Maria Braga,

Sou um sertanejo da Paraíba, nascido e criado em Princesa Isabel, conterrâneo de Canhoto, aquele que graças a você hoje já não chora mais tantos desenganos. É por isso que tomo a liberdade de escrever-lhe para, em nome da terra comum, agradecer penhoradamente pela ajuda dada ao nosso Chico Soares, o homem que quando tinha saúde encantava o mundo com o seu violão canhoto e que, depois de doente, passou seis anos sofrendo, esquecido, jogado num canto de parede, sem violão e sem os afagos que eram tão comuns nos tempos de estrela.

Você, Ana Maria, que sofreu na pele o desengano de um quase adeus, agora descobre que Deus tinha razão ao não permitir que o câncer a tirasse do nosso meio. Você tinha que ficar para poder proporcionar a gente como Canhoto da Paraíba a alegria de não ficar mais só, a esperança de um renascer, a certeza de que existe sempre uma luz no horizonte distante.

Canhoto agora sorri, Ana, porque você lhe devolveu o sorriso. Com o seu exemplo, com o seu caráter, com a sua enorme alma de santa guerreira, você mostrou ao nosso vate semi-morto que ele pode continuar vivendo, pois a vida só perde o sentido quando Deus determina.

Graças a você, Ana Maria, Canhoto agora tem pensão vitalícia paga pelo governo da Paraíba. Bastou seu brado, seu canto de tristeza ecoar pelos ares do Brasil, para de repente as autoridades do meu Estado lembrarem que Canhoto não era apenas um doente que esperava a morte chegar, mas um filho ilustre que de tanto honrar a terra mãe tinha o direito a um tratamento a altura de sua dignidade.

Não sou deputado. Se fosse, juro que lhe daria uma cidadania paraibana. Também não sou vereador, mas atrevo-me a convidá-la a ser princesense como somos. A nossa pequenina Princesa, perdida entre as serras do sertão, situada nos aceiros derradeiros dessa Paraíba nordestina, aplaude o seu gesto, lhe agradece em nome de Canhoto e anseia por abraçá-la, quem sabe agora em novembro, quando nosso Chico lá desembarcar para beijar a terra do seu bem querer e matar a saudade que enche seu peito de tocador.

Ave Ana, Ave Maria, Deus a abençoe, sempre cheia de graça.