NOTÍCIA
João Pessoa - PB, sábado, 21 de maio de 2005 |
Revolta de Princesa, 1930 O advogado e jornalista princesense Sebastião Lucena pretende lançar até o final do ano o novo livro, cujo título provisório é "Trinta". O tema abordado, como o próprio nome sugere, são as lutas armadas em Princesa no ano de 1930. Já foram escritos mais de 25 capítulos de um total de 60. (Mardson Medeiros) |
EM PROFUNDIDADE Abaixo segue o capítulo 19 de "Trinta". 19 O despertar de Princesa no dia seis de junho de 1930 foi sobressaltado. A zoada do avião dizia que algo diferente estava acontecendo. E estava mesmo. O “Garoto”, avião adquirido pelo Governo do Estado para bombardear a cidade, finalmente chegara com suas bombas ameaçadoras, deixando o povo em polvorosa. O ronco dos seus motores fizeram mulher parir antes da hora, duas pessoas morreram do coração e Chiquinho Mendes fez um pacto com uma galinha que dormia no forno da padaria onde ele se escondeu: ela não o denunciava e ele lhe presentearia com um corte de tecidos. O Governo via que por terra não tinha jeito de invadir Princesa. Chegara nas léguas de beiço, mas nada de derrubar a cidadela rebelde. O jeito era ir pelos ares. Por isso adquiriu o avião, que foi dado a conhecer ao coronel pelo seu espião no Vale do Piancó, Joaquim Sérgio. Falava-se que o avião chegaria, mas ninguém queria acreditar. “Só vendo”, alardeava Janjão Amaral na esquina da igreja matriz, em conversa com outros cabras. Até que viu. O “Garoto” partiu de Piancó pela madrugada. Passou por Patos de Irerê ainda com o sol escondido. Marcolino dormitava na preguiçosa da casa semi-destruída pelas marretadas da polícia, curando uma perna ferida pelas balas do juiz de Triunfo, quando teve o cochilo interrompido pela zoada. “É o avião”, gritou Xandu da cozinha. O caboclo deu de garra do rifle e saiu pulando num pé só para o terreiro, atirando no bicho. O avião alcançou as primeiras ruas de Princesa com o sol nascendo. A reação da cidade foi diversa. Teve quem dividisse espaço com os penicos debaixo das camas, mas também surgiram os valentes que saíram pelas ruas atirando no invasor, só não acertando porque o piloto, vendo o perigo, subiu acima de três mil pés para ficar fora do alcance das balas. O negro Zacarias, que morava em Jericó e estava em Princesa atraído pela curiosidade de ver o avião, chorava na calçada da farmácia de Zé Frazão: “Bem que minha mãe disse que eu não viesse! Bem que minha mãe disse que eu não viesse!” O major Feliciano Florêncio atirava do quintal de sua casa situada na descida da Rua Nova com o “comblain” do século XIX no momento em que o avião soltou uma ruma de panfletos. Ele não se conteve: “Acertei nas penas!” A fuzilaria encheu a rua principal de Princesa de fumaça. Até passarinho foi pego por bala doida. O coronel, que se encontrava em casa, saiu à rua mandando os cabras pararem o tiroteio, porque sabia que aquilo era um estrago de munição. A “guerra” durou menos de meia hora, ao fim da qual o aparelho embicou o focinho para as bandas do Piancó e retornou ao campinho de aviação mandado construir pelo secretário Zé Américo, levando nas asas alguns furos de bala. |
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