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ESPECIAL: 75 ANOS DA REVOLTA DE PRINCESA

 

João Pessoa - PB, quarta-feira, 30 de março de 2005

 

Guerra da perdição
(Miguel Lucena)


Capa

Leia a nota introdutória de "Guerra da perdição", clicando aqui.

"A Paulo Mariano,
revolucionário das brenhas
de Princesa que não deixa
´quebrar coco´ o bacamarte
de Luiz do Triângulo"

 

Plantado numa trincheira de defesa,
Ronco Grosso engatilha o mosquetão
pelo Território Livre de Princesa
sem temer as balas de canhão.
O fogo é cerrado e a chama acesa
da luta lhe queima o coração.
Seiscentos pescoços na navalha
regam o chão com sangue da batalha.
 

  Luiz do Triângulo, um bacamarte!
Em dois meses, matou vinte "macacos".
Corpos putrefatos em toda parte
na guerra dos fortes contra os fracos.
Esta guerra, do Diabo é uma arte...
O sol se foi... Tudo é muito opaco.
No peito rude, uma ferida aberta.
Esta guerra é sem sentido, não liberta.
Voz fina e mansa, Rafael Paixão,
menino do mato, guerreiro valente,
só tem 12 anos, mas o coração
palpita no peito - orgulho de gente.
Luta bravamente, fere braço e mão.
No entanto, ri, gargalha contente:
- Não sou coronel. Sou da minha terra!
Ninguém ultraja o meu pé de serra!
 

 

Invadem Patos-Irerê de Marcolino,
aprisionam mulheres e crianças.
Sob as ordens do tenente Ascendino,
a milícia governista avança.
Mais de duzentos rebeldes, sol a pino,
reagem repletos de esperança.
A tropa governista, derrotada,
ouve em Princesa o toque da alvorada.

Sombras invisíveis entre as jitiranas
seguem os passos de João Costa, a leste.
Até mesmo as cobras caninanas
se arrepiam com a fúria da peste.
Cem tiros cuspidos de uma campana
salvam a Princesa do Nordeste.
No portão da cidade sitiada,
mais uma tropa liberal é derrotada.
 

  Fome, frio e dor... Pidó delira.
Treme, arde, o suor lhe queima o rosto.
Tenta desistir, mas Manaíra
e São José são o seu posto.
Ninguém lhe acode. Pensa em Jandira,
ainda roliça. Vem-lhe à boca um gosto
de gozo, mel de mandaçaia
e queimam-lhe as mãos o fogaréu da saia.
Cícero Bezerra já largou a terra.
Joaquim Gomes trabalha de graça.
A mulher de João Paulino encerra
a honradez de toda uma raça.
Quem sabe, é melhor tombar na guerra
a viver sob o manto da desgraça.
Despetalaram João Flor covardemente
após a guerra em que foi combatente.
 

  - Homens da Coluna Norte, ação!
- Grita Irineu Rangel à sua tropa.
Grita, não. Solução, em vão.
Uma leva de matutos já galopa
pelas colinas do Gavião
e cerca a tropa que, em debandada,
não invade a cidade sitiada.
Um frio de necrotério... Um vento forte
assovia e corujas agoureiras
vestem com o roupão da morte
a Serra da Lavandeira.
Luiz Américo, de sorte,
inda não virou caveira.
Já é quase fim de guerra...
Há muito adubo de valentes sobre a terra.
 

 

Xandu gesticula e Zé Pereira,
lívido, estático, fala à toa:
- João Dantas vinga a companheira
ultrajada e mata João Pessoa!
Era 26 de julho e a cabroeira
- farrapos de roupa, olhos de garoa -
depõe a garrucha e o mosquetão
no fundo da Lagoa da Perdição.

Cessa a luta, finda a guerra,
só não cessa a humilhação:
invade a rebelde terra
o Exército da Nação,
tortura nas ruas e serras
os rebeldes do sertão
- mulher estuprada, caboclo surrado,
menino apanhando com coco pelado.
 

  Getúlio, baixinho, ordena a invasão:
- O coco-de-roda está proibido!
Diz o Comando da Revolução:
- Princesa é uma terra que só tem bandido,
andou protegendo até Lampião!
Aqui, acolá, mais um estampido:
- Quem foi que morreu? O grande João Flor.
Morreu à traição. Macaco o matou.

Imagens e versos encontrados em: LUCENA, Miguel. Guerra da perdição: a Revolta de Princesa. Brasília, DF: Best Graff, 2003.
Direitos Reservados ao autor.
Ilustrações: Ednaldo
Projeto Gráfico: Wellington Braga
Contatos: (61) 9618-5925 / mlucenafilho@hotmail.com

 

CONHECENDO O AUTOR

MIGUEL LUCENA, 37 anos, é natural de Princesa - Paraíba. Bacharel em Direito e jornalista, é delegado e diretor de Comunicação da PCDF - Polícia Civil do Distrito Federal. É pós-graduado pela Escola de Magistratura da Bahia. Foi repórter da Folha de São Paulo e dos jornais O Norte e A União, em João Pessoa; redator e editor do Diário da Borborema, em Campina Grande; redator da Tribuna da Bahia e do Correio da Bahia e repórter do jornal A Tarde, em Salvador/BA. Atualmente, edita a revista Domínio Popular e o jornal Gazeta Policial, em Brasília/DF. Exerceu os cargos de diretor dos Sindicatos dos Jornalistas da Paraíba e da Bahia, da Federação Nacional dos Jornalistas e da Associação dos Delegados de Polícia do Distrito Federal. É tesoureiro do Sindicato dos Delegados de Polícia do DF.

Antes de assumir o cargo de Delegado de Polícia do Distrito Federal, foi aprovado em 1º lugar para a Escola Superior do Ministério Público da Bahia e para procurador do Estado de Sergipe e da Universidade Federal de Alagoas.

É autor do livro de poemas "Verso-menino" (primeira edição esgotada) e do poema-cartaz "Os seios da terra", pelo qual recebeu certificado de distinção do Prêmio Criatividade Literária do Governo do Distrito Federal. É co-autor da música "Estação Azeviche", composta com Rui Poeta e gravada pelo bloco afro Ilê Aiyê,  da Bahia, e de "O sertão chora", com Wilson Aragão, consagrado com Capim Guiné.

Fonte: LUCENA, Miguel. Guerra da perdição: a Revolta de Princesa. Brasília, DF: Best Graff, 2003.

VERSOS DESDE MENINO

"Miguel começou a escrever poesias aos 10 anos, mas todo o trabalho produzido até a adolescência, que guardava precariamente numa caixa de papelão, foi confundido com papel velho e jogado no lixo por uma empregada doméstica. Desanimado, parou de poetar e só fazia brincando de repentista, com os amigos. Em 1993, voltou a versejar nas horas vagas e, como a recuperar um tempo perdido, publicou o seu ´Verso-menino´"*.

Leia dois poemas do livro "Verso-menino", clicando aqui.

* LUCENA, Miguel.  Verso Menino. Bahia: BDA, 1995.
** Em itálico, grifos meus.

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