NOTÍCIA

 

João Pessoa - PB, quinta-feira, 9 de setembro de 2004

 

S.O.S. ao virtuose do violão


Fonte: www.globo.com/maisvoce

Nesta terça-feira, dia 7 de setembro de 2004, foi exibida reportagem no programa de Ana Maria Braga, na rede Globo de televisão, sobre as condições em que se encontra o violonista princesense Francisco Soares Araújo, o Canhoto da Paraíba.

Com dificuldades na fala e nos movimentos do lado esquerdo do corpo, em função de um derrame, o artista  necessita de assistência médica especializada, de maneira que possa tentar recuperar-se das seqüelas com mais eficácia. A família não dispõe de condições financeiras para fazer o tratamento adequado e pede apoio.

A apresentadora do programa "Mais Você" fez um apelo em rede nacional ao governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, para que não o abandonasse. A invocação poderia ser estendida a todos os princesenses, principalmente àqueles que detêm o poder público.

Vivemos em um país de memória curta e acostumado a cometer injustiças. E é isto que está acontecendo, uma tremenda injustiça. Trata-se de descaso perpetrado contra um artista de renome nacional. Espera-se que as autoridades fiquem  sensibilizadas e entrem em ação. Canhoto, aos 78 anos, tem pressa.

(Mardson Medeiros)

 

- Assista, através do "Globo Media Center",  à reportagem exibida no programa "Mais Você". Basta clicar no link abaixo (somente para usuários de internet banda larga):

Vídeo - reportagem de Karla Almeida, do Recife, para o "Mais Você"

TRANSCRIÇÃO DA REPORTAGEM

"No canto da casa, um violão em silêncio. O companheiro de muitas horas já não compartilha mais do talento do artista. Foram 40 anos de parceria. Nos palcos, os acordes revelados pelas mãos do mestre: Francisco Soares de Araújo, o Canhoto da Paraíba. Músico, compositor, violonista, amigo de Paulinho da Viola, respeitado e admirado por grandes nomes da MPB, como Pixinguinha e Jacó do Bandolim.

Depoimento de Paulinho da Viola: ´Eu quando vi o Canhoto pela primeira vez, tinha 16 anos, né, e foi uma coisa assim que não só me comoveu como a todas as pessoas que estavam presentes na casa do Jacó do Bandolim. E depois de ver o Canhoto, aquilo foi tão forte pra mim que eu comecei a tocar. Esse encontro foi decisivo pra mim.´

A carreira de músico começou na infância. O pai era violonista, a família toda tocava junto, daí para o garoto de oito anos dedilhar o violão foi fácil. 

Desde cedo uma curiosidade, o menino tocava com a mão esquerda e sem inverter as cordas. Foi assim que ele aprendeu, assim nasceu o apelido famoso. O paraibano de Princesa Isabel passou a ser conhecido como canhoto, o Canhoto da Paraíba.

A filha Fátima sempre foi a companhia mais freqüente. Muitas vezes dividiu com ele os palcos, num dueto de voz e violão. São momentos que Canhoto gosta de recordar. 

Depoimento da filha: ´A gente confia em Deus, tem esperança, acredita no melhor. A gente dá sempre o amor a ele, o carinho, o afeto. E tudo isso ajuda para que ele venha ter uma boa recuperação: o carinho dos netos, da família. E a gente tem esperança de um dia ele voltar a tocar.´ 

Hoje o violão é só uma lembrança, Canhoto não toca mais. Também não anda e fala com dificuldade. Um derrame paralisou todo o lado esquerdo do corpo. Justamente a mão que ele dedilhava com virtuosidade. Está assim há seis anos. 

Depoimento de Canhoto: ´Às vezes, fico ouvindo minha música e tenho vontade de chorar. Mas tenho fé em Deus. Com fé e firme com a minha dor, tenho certeza de que vou voltar a tocar´

Depoimento da filha: ´Ele precisa da assistência de um fonoaudiólogo, pois está falando com certa dificuldade; de fisioterapia intensiva; de uma hidroterapia (que é na piscina), tudo isso ele não tem ainda. Além de tudo, esta é uma doença muito lenta, com recuperação muito lenta. Ele precisa de um tratamento mais eficaz.´ 

A situação em que Canhoto se encontra comoveu muita gente: fãs, músicos, amigos. Foram várias as homenagens que ele recebeu ao longo dos anos em que se afastou do palco. Uma das mais bonitas foi uma súplica a Nossa Senhora, um poema em forma de oração. 

Trecho declamado pelo poeta: ´Por isto, minha Santa, por isto, Imaculada, / já que sois tão poderosa diante de Deus, / fulminai para sempre e eternamente com / vossos raios a insensibilidade humana...´ [voz trêmula]

 O poeta tropeça nas palavras, se emociona ao lembrar do amigo. 

Urariano fala: ´É difícil a gente dar continuidade.´ [continuar recitando os versos]

A admiração vem de muito tempo, da época em que Canhoto brilhava nos palcos. Depois que conheceu o músico, o escritor Urariano Mota passou a acompanhar toda a trajetória dele. Sofreu com a doença e com o isolamento do artista, mas encontrou na poesia um meio de desabafar. 

Depoimento de Urariano: ´É uma homenagem mais do que justa e necessária, para que um artista da qualidade dele, que chegou a ser elogiado por Pixinguinha, que chegou a ser idolatrado por Jacó do Bandolim, que é uma referência mundial no violão, não acabe seus dias como ele está acabando. Eu gostaria que essa oração atingisse o coração  das pessoas, e a partir daí houvesse uma mobilização para dizer que alguém chegasse pra ele, pusesse a mão no ombro dele e dissesse: - De que é que você precisa?´

 ´Sabei, Senhora, que canhoto mal falando, a tropeçar nas sílabas, como uma grande criança que cresceu para ser coroada nessa cadeira de roda / que canhoto ainda assim sorri...´ "
 

NOTA PUBLICADA NO SITE DO "MAIS VOCÊ"

"Você sabe quem é Canhoto da Paraíba?
Ele foi um grande mestre dos violões do nordeste.
Sua obra inspira músicos por todo Brasil.

O cantor e compositor Canhoto da Paraíba, de 78 anos, vive há seis sem poder tocar por causa de um derrame.
A família não tem condições de pagar todos os gastos para a reabilitação de Canhoto.
Por enquanto, apenas a ajuda de fãs e amigos alimenta a esperança de que ele volte a tocar e compor.

A repórter Karla Almeida, de Pernambuco, nos contou mais detalhes."


Canhoto da Paraíba
(Texto de Urariano Mota)

"Fecho os olhos, para melhor falar, abro-os e ergo-os para um céu deserto de tudo até da esperança.
E, por isto mesmo, por mais sem razão e sem nexo, o peito que desejaria gritar, fala e balbucia baixinho, ainda que seja inútil o afã de encontrar uma razão para o que vejo.
Minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro mostrai que sois verdadeiramente mãe de todos artistas caídos em desgraça na terra.
Existe um homem que é grande no tocar, existe um sereno e augusto artista que é largo e alto de coração, existe um violonista de nome Francisco Soares de Araújo, que a simplificação da gente achou por bem chamar de "Canhoto da Paraíba".
Minha Nossa Senhora, esta súplica seria inútil se tivésseis a graça de ouvi-lo, um só minuto. Então, saberíeis como ele transporta o céu para a brutalidade e para a angústia de todos animais que somos.
Esta prece poderia ser tão-só e somente um insulto à dignidade de Francisco Soares de Araújo, se Canhoto da Paraíba não se encontrasse no estado e no ânimo em que se encontra.
Sabei, nobre Senhora, sabei que Canhoto se acha numa cadeira de rodas, com a voz falha, e todo lado esquerdo do corpo, e toda a mão esquerda paralisada?
É assim que a providência castiga os bons da alma?
Sabei, Senhora, que Canhoto mal falando, a tropeçar nas sílabas, que Canhoto ainda assim sorri...
Por isto, minha Santa, por isto, Imaculada, já que sois tão poderosa diante de Deus, fulminai para sempre e eternamente com vossos raios a insensibilidade humana.
Porque existe um homem, que um dia foi Canhoto da Paraíba, que jaz numa cadeira de rodas, em Maranguape.
Sem se queixar e a sorrir...
E, por assim estar, é que machuca o coração da gente."

A MÚSICA

Quem ainda não conhece o trabalho de Canhoto da Paraíba pode adquirir o CD "O violão brasileiro tocado pelo avesso", relançado recentemente pela gravadora EMI. Para maiores detalhes, clique aqui.

CONTATO

Canhoto da Paraíba
Fone: (81) 3372-2100

 

 

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Mardson Medeiros